terça-feira, março 07, 2006

Esqueceram de me avisar

Esqueceram de me avisar que crescer era difícil. Não que eu tivesse alguma opção depois de ter nascido - nem antes. Não me perguntaram se eu queria nascer. E se tivessem me perguntado, provavelmente eu teria dito que sim, queria, pois a idéia de passar muito tempo dentro de um útero me assusta. Acho que foi por isso que nasci de 7 meses e meio. E, além do mais, gosto muito da minha vida. Mas, retomando, não me avisaram que crescer pudesse ser tão complicado. Se tivessem, talvez eu teria entrado nessa mais preparada.

Quando era pequena, menor ainda, me imaginava na faculdade, assinando cheques, indo ao banco, dirigindo etc e vislumbrava uma pessoa totalmente adulta, segura, inteira. E ninguém, em momento algum, me avisou que não era assim...

Hoje tô formada. Dirijo. Já bati o carro 2 vezes. Vou ao banco. Ganho meu dinheiro e acho que acabei de ser contratada em meu primeiro emprego. Mas ainda não me sinto grande. Especificamente hoje, me sinto bem pequena. Tem dias que são assim.

E chego a sentir falta de uma mão para segurar a minha na hora de atravessar a rua. De contar para os mais interessados como foi o primeiro dia de aula, de emprego, de fila pra tirar Carteira de Trabalho.

Lembro muito bem da sensação de, quando moleca, estar triste e meio perdida, não vendo a hora de chegar em casa depois de um dia de colégio pois, com a cabeça no colo da minha mãe, deitada na cama de casal, o mundo podia desabar que tudo estava bem. Todo o mal do mundo ficava da porta para fora da minha casa.

Sinto falta da sensação de paz e tranqüilidade que brotava dentro de mim quando ouvia um simples "vai ficar tudo bem" da boca de meus pais. E eu não duvidava. Se eles falaram, é lógico que ia ficar tudo bem e ponto final. Adorava quando eles enchiam minha bóia antes de eu entrar na piscina pois eu tinha certeza de que não iria afundar.

Lembro de quando a semana estava demorando para passar, era quarta-feira ainda, e eu ficava imaginando o que ia fazer no final de semana - nadar no clube, ir ao parque, passear no zoológico. Engraçado que hoje ainda faço isso em alguns finais de semana, mas já não tenho a expectativa de antes. E já chegou a 2ª outra vez.

Era bom estar fazendo alguma coisa difícil, como amarrar o cardaço do tênis, e poder virar para aquela pessoa que era, no mínimo, duas vezes mais alta que eu e falar: "Amarra pra mim?". Imagino se hoje eu virasse para o meu chefe e falasse: "Ow, não dá para produzir um livreto inteiro em quatro dias! Faz pra mim?"...

E hoje, mais do que nos outros dias, estou me sentindo pequena. Todos me olham como se eu fosse grande. Tão independente, tão segura de mim. Mas eu não sou grande. Não agora. Se eles soubessem que tudo que eu queria neste momento era que alguém me olhasse nos olhos e enxergasse tudo aquilo que não consigo falar. Alguém que me mandasse tomar um banho enquanto prepara uma xícara de chocolate quente para mim. Então, eu, de banho tomado, colocaria minha calça de pijama, iria para a cozinha, ficaria vendo essa pessoa preparar o chocolate e, naquele momento, eu ia achar, nem que fosse por alguns minutos, que tudo ia ficar bem. E outra vez, todos os males do mundo ficariam da porta pra fora. E todo o resto giraria em torno de um par de xícaras.